A tempestade chegou!
Vamos voltar no tempo para outra estória vivida quando tenente. Saímos do Canal do Panamá e entramos no Atlântico em viagem de retorno ao Brasil após recebimento de um contratorpedeiro em San Francisco na Califórnia.
Monitorando a previsão meteorológica que recebíamos dos centros previsores de terra e os nossos instrumentos de bordo pudemos realizar a preparação do navio para enfrentar as condições adversas de mar e vento que o mau tempo que se avizinhava traria. Esta análise nos disse que iríamos enfrentar ventos fortes, mares revoltos, chuvas, má visibilidade e fortes ondas. Durante três longos dias enfrentamos mar força 10 na “escala Beaufort” o que significa: mar muito duro com ventos entre 48 a 56 nós, grandes vagalhões de 9 a 12 metros, vento que arranca faixas de espuma arrebentando em cascatas nas vagas, visibilidade reduzida e mar quase todo coberto por estrias brancas. Esta situação levava a termos ondas chegando aos para-brisas do passadiço – situado a 8 metros acima do nível do mar – toda vez que o navio enfiava sua proa cortando as águas tempestuosas.
Enfim, exauridos, chegamos a salvos em Curaçao, para dois dias de descanso.
Para o navegante amador é importante ter algum conhecimento que lhe possibilite interpretar corretamente os fenômenos atmosféricos e as informações sobre o tempo. Para uma previsão do tempo, o que interessa não são os valores absolutos e reais da pressão (dada pelo barômetro) e da temperatura (pelo termômetro) em um dado momento e sim a variação destes elementos ao longo de um período de tempo. Como regra geral: “uma diminuição de pressão corresponde a uma mudança de tempo para pior e uma elevação de pressão corresponde a uma mudança de tempo para melhor”. Na prática podemos usar o barômetro do seguinte modo:
- registre a pressão de hora em hora para visualizar seu comportamento nas últimas 3 horas;
- uma variação na pressão durante o dia de até 2 hectopascal (hPa), para cima ou para baixo, é considerada normal;
- uma baixa de 3 hPa em 3 horas começa a preocupar. Será realmente preocupante se for de 5 hPa. Caso seja mais baixo ainda esta variação, torna-se necessário precaver-se contra o mau tempo; e,
- caso aconteça uma baixa mais forte do que a anterior, podemos dizer que uma tempestade é iminente. Ela virá ao final da queda da pressão acompanhada de fortes ventos.
Quanto à temperatura podemos dizer que o termômetro é menos indicativo que o barômetro quanto à mudança das condições meteorológicas, no entanto, auxilia como instrumento complementar na previsão do tempo. Termômetro subindo rapidamente e calor asfixiante, indica tempestade oriunda de frente fria.
Com este começo de noções de meteorologia já temos boas “dicas“ para acompanhar o tempo que nos espera de modo a termos uma singradura mais segura. Sobretudo as que serão mais distante do que as águas abrigadas pela maravilhosa Ilha Grande que fortifica a bela e fascinante baía que nos proporciona vivermos no seu quase sempre espelhado mar. Exceção feita ao vento sudoeste e às lestadas que vêm sacrificar nossas embarcações.
Até o próximo encontro esperando que ventos fracos e mares tranqüilos atinjam nossas proas.