O NAVIO TEM “ALMA”.
Nos nossos encontros temos conversado e enfatizado o quanto navegar com segurança é preciso. Falamos sobre normas e regras de manobras, regulamentos, a preparação que antecede a nossa saída para o mar, o material de salvatagem, o material de navegação que devemos ter a bordo e não paramos por aí. Hoje nós vamos falar que é preciso antes de tudo, conhecer a nossa embarcação em todos os seus detalhes. Como ela navega, como ela sente a ação do vento, ela tem tendência para um dos bordos – qual deles e por que? Ela demora a planar? Como ela atende ao seu comando? Ela é lenta, rápida? E o que dizer da sua inclinação e do seu balanço? Ela demora no balanço – ou “dorme” como dizemos os marinheiros. Se dormir muito tempo temos que tomar mais cuidado pois, cresce o receio dela poder emborcar? Sim amigos, temos que conhecer e dedicar todo o carinho à nossa embarcação. E por aí iria eu discordando por longo tempo.
O porquê de se falar nisso? O que tem a ver o que foi dito até agora com a segurança da navegação. Comecemos então, de início, e, principalmente, sentir, que uma embarcação não é igual à outra, não navega como outra. Troque de embarcação e verá. O que uma tem de melhor, ou pior do que a outra. Será que era seu amor, seu carinho por ela? Sim, este é sem dúvida um dos fatores, senão o maior deles. Você a amava. Ela foi sempre uma “dama” a ser cortejada, acariciada, venerada. Como se diz na língua inglesa o navio? Não se usa o “it” e sim o “she? Por que será no feminino? O navio é ela, o sonho, o desejo, o que me faz feliz, o afago, o carinho, o amor. Por ele (ela) tudo sinto e faço.
Portanto, nós iremos sempre sentir a perda do nosso navio, nossa embarcação. Vamos sofrer com ele, quer isto seja por venda, emborcamento ou, se navio, a perda de sua vida útil, o desmanche.
Somente aqueles que tiveram o privilégio de Comandar sua embarcação, seu navio, seja de guerra ou mercante, sabe o quanto o que estou escrevendo faz sentido. Sabe bem o que é ver e sentir a “alma de um navio”. Não se descreve, vive-se intensamente e não conseguimos, não sabemos, como explicar esse sentimento.
Nós marinheiros, que estamos servindo agora ou em algum dia comandamos, na marinha do Brasil ou na marinha mercante, como marinheiros amadores ou profissionais, dizemos com fervor que o navio tem “alma” e que cada um é diferente do outro é sempre um outro amor.
Lá vem o poeta de novo. Licença por usar a sua frase, para louvar o amor que sentimos por nosso navio: “que seja infinito enquanto dure”.
Viva com intensidade esse amor sempre com ventos fracos e mar tranquilo.